Como não olhar para "as coisas deste mundo".


Nestes poucos 29 anos que tenho de evangélico, costumo observar o comportamento cristão, focado principalmente em nosso amado povo evangélico, não somente como um crítico, mas numa avaliação para o meu próprio crescimento. Peço ao Senhor, em minhas orações, que o que escrevo sirva em primeiro lugar para me fazer aprender mais, me fazer exercitar, como Paulo diz, no "exercício da salvação". Por vezes somos pegos por pensamentos em que "cobramos" de Deus algum castigo para tamanho 'pecado' da sociedade moderna. Nos esquecemos da liberdade de escolha que o Criador deu a estas pessoas, assim como nós usamos dela antes de conhecermos o caminho da salvação. Muitos dos nossos irmãos, que outrora também eram parte do "mundanismo", apregoam o desejo de um castigo terrível sobre os que não querem nada com a igreja. E de tanto ouvirmos este tipo de pregação, aprendemos um evangelho punitivo, de um Deus que está pronto a castigar mediante qualquer erro que passe diante dos seus olhos. Não toleramos o pecado alheio, ao mesmo tempo que requeremos uma profunda compreensão referente aos nossos pecados. Quanto aos pecados das outras pessoas, pensamos ser os "fiscais" de Deus.

Como assistimos a todo momento transgressões terríveis no mundo, nos frustramos por não vermos um castigo imediato sobre os transgressores, como são relatados nas pregações em nossas igrejas. Até pecamos no pensamento, em cobrar do Senhor uma "mão pesada" sobre os inimigos da obra de Deus. Muitos chegam mesmo a amaldiçoar, desejando que algo de bem ruim venha a ocorrer na vida de algum desafeto. Não há, em seu coração, algum estímulo pela misericórdia, perdão, compreensão, para o pecador, como se este fosse o seu filho. Sempre que as acusações são dirigidas para as outras pessoas, há uma enorme facilidade em conclusões e condenações nos fatos que ouvimos alguém dizer. Quando acusações são sobre algum de nossos ente-queridos, ou alguém que prezamos, tentamos a todo custo explicar que "não foi bem assim".

Não é de hoje que a religiosidade desvia o foco do perdão, da redenção, para uma rigorosa cobrança por santidade. São tantos sermões com cobranças sobre como o cristão deve "andar", que se cria um estereótipo de crente verdadeiro, longe das "coisas do mundo", e que repudia a todo comportamento que não venha a se adequar aos dogmas que, na visão legalista, evidenciam a "santidade". Cada um cria em sua mente a imagem de um super-crente que vence a tudo e a todo tipo de inimigo, que não respeita a nenhuma outra opinião, e que os outros não sabem nada do que ele sabe sobre santidade, e começa a se espelhar nesta imagem. E inicia esta jornada pela pior parte: criticando, condenando, e se dirigindo aos outros com arrogância, sentindo-se na posição de um ícone da pureza cristã. Nem o Senhor Jesus se colocou em tal posição diante da mulher adúltera que seria morta a pedradas em João 8. Um pouco mais de conhecimento bíblico para perceber que seu comportamento é fruto apenas de uma imaturidade cristã.

Todos os dias inúmeras igrejas, com diferentes nomes, são inauguradas, afirmando serem os "resgatadores" da verdadeira sã doutrina, perdida na denominação de onde saíram. Para estes, fundadores de uma igreja "mais pura", as outras igrejas estão afundadas no "esgoto do mundanismo", mas que, segundo eles, Deus os levantou para mostrarem a todos nós como o crente deve ser. Um raciocínio pífio, infantil, que, quando não é orquestrado por algum espertalhão, mau caráter, com certeza é fundado por alguém que leva meia hora para conseguir ler um versículo, não sabe e nunca soube o que é um estudo bíblico, porque para ele estas coisas são "a letra que mata". (Detalhe: a letra da Palavra de Deus não pode "matar" ninguém. Paulo se referia, em 2º Coríntios 3:6, a letra da lei). O próprio Jesus advertiu: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam". (João 5:39)Os cultos neste lugares, tem muito pouco conteúdo na Palavra, e são seguidos de gritarias e advertências de que há um "mistério ali no meio da igreja". Com isso, se alguém duvidar da autenticidade do culto, logo a intimidação causa temor, pois é proibido pensar. Uma tática antiga, mas que funciona e manipula os incautos.

O mais engraçado é que quando um pastor toma uma posição CONTRA os usos e costumes de algumas denominações, qualquer falha dele o condena como um todo! Não há alívio. Não é exemplo de vida e acabou. Agora, os pastores, que são radicais, estes podem mentir, fazer fofoca, cair em adultério, comprar e não pagar, passar cheques sem fundos, enfim, fazer um monte de sujeiras, e quando se fala deles, aparece um pra dizer: "-Não fale isso, irmão...o homem é falho...não olhe para o homem (o pastor)...olhe para Jesus". Ora, porque usar de uma argumentação, num claro intuito de se defender uma determinada pessoa (o legalista), e este mesmo argumento não pode servir para o não-legalista? E outra: este conselho de "não olhar" para o "homem" é uma falácia para não se questionar os deslizes da liderança. Ou do contrário, se é para se olhar somente para Jesuso que ele faz ali como pastor?? O mesmo conselho alguns destes líderes parecem não seguir, quando se desligam de seus ministérios e fundam uma nova igreja. E em suas reuniões internas, as portas fechadas, eles não pensam em "não olhar para o ser humano". Descem a lenha, punem, excluem, quem ousar atrapalhar os seus interesses.

Um dos grandes problemas do pensamento legalista, é que não há, na visão que lhes foi passada sobre santidade, um meio termo no que diz respeito a decência. É o raciocínio radical do "ou é 8 ou é 80". Ou a mulher usa a saia, ou é prostituta. Nunca lhes serve de exemplo uma calça-comprida decente, como visto nas irmãs de igrejas que não não pregam "doutrinas" de usos e costumes. Alguns chegam a dizer que jamais visitariam as igrejas onde "todo mundo anda pelado". Esta é uma afirmação com um grau enorme de estupidez, pois podemos visitar inúmeras igrejas evangélicas que não são rigorosas quanto as vestes, e nem por isso os membros andam "pelados". Em nossa igreja, pessoas abandonam vícios, de lugares ou atitudes, sem precisar estar proibindo, com o risco de disciplina, suspensão, exclusão. E vemos estas pessoas sendo transformadas, libertas, e se tornarem uma bênção.

Quando uma liderança investe num posicionamento radical, no que diz respeito a santidade nas vestes, muitas vezes ela não tem noção de como isso é levado a sério pela membresia. As pregações contra o mundanismo alimentam a ideia de que o pastor e o ministério são radicalmente contra a quem não se adapta aos seus usos e costumes, que são, na visão deles, o referencial da santidade do cristão verdadeiro. Em alguns sermões, reuniões para novos-convertidos, e "cultos de doutrina", o pastor ou instrutor insiste em deixar claro que o crente deve ser "diferente". Esta diferença, porém, não trata do caráter, virtudes, bom comportamento, lealdade na palavra, mas da exteriorização da santidade. É a imensa força que algumas igrejas fazem para converter as pessoas de fora para dentro. Se esta diferença pregada por muitos destes estivessem nos âmbitos da decência, e fugindo do que a moda contemporânea impõe pela mídia, poderia ser melhor entendido como uma posição da igreja fora dos padrões realmente mundanos, e que devemos mesmo apregoar a santificação para aqueles que querem se santificar. Mas vai muito além disso. São regras e posicionamentos impostos, e visto até como uma "libertação". É a demonização da mulher que usa uma calça-comprida (mesmo que seja mais decente que algumas saias e vestidos justas no corpo), que usar uma maquiagem leve, brincos, ou o homem usar bermuda e camiseta. 

Toda essa credibilidade da igreja na postura radical do líder cai por terra, quando o pastor recepciona pessoas que são tidas como importantes na sociedade, figuras na política, esposa de políticos, e estas são recebidas em cima de seus púlpitos, e mesmos que elas não estejam dentro da "doutrina" da igreja, o pastor as abraça, e ainda as chama de "bênçãos" que Deus enviou ali. Uma bajulação no intuito de manterem a simpatia e o bom relacionamento com as pessoas de valor deste mundo. Com esta atitude, a indignação e revolta toma conta de muitos membros e obreiros, e a chamada "murmuração" (nome dado por alguns líderes aos questionamentos) assola a congregação. O líder se vê em "patas de aranha" para explicar o deslize de colocar uma mulher de calça no púlpito, esposa de algum deputado, prefeito, ou vereador, se ele mesmo prega que todas as outras mulheres que usam calça estão endemoniadas, possessas pelo espírito da sensualidade, e precisam ser "libertas". 

Respeito a todas as igrejas que mantém suas normas, seus estatutos internos. Tenho inúmeros amigos pastores em muitas destas igrejas, e eles gostam de dialogar comigo, porque debato assuntos e não pessoas. Não apelo para acusações pessoais no intuito de ganhar discussão, ou querer ser melhor que os outros. Meu posicionamento é sincero, e meu diálogo é centrado na Palavra de Deus. No fim da conversa até estes pastores amigos admitem que precisa haver um equilíbrio em cobranças por "santidade nas vestes" para não adentrar o caminho do fanatismo. Alguns chegam até admitir que nada disso tem ligação com santidade, mas que tem o receio de duas coisas: 1 - Perder do rol de membros os mais antigos; 2 - Perder os jovens do controle, e estes irem para outras igrejas. Tudo isso poderia ser resolvido, com muito estudo bíblico e amor sincero no corpo da igreja. E mesmo que alguns antigos viessem a se desligar alegando "falta de doutrina", perde-se por ano muito mais ovelhas por demagogia e hipocrisia por parte destes próprios radicais. 

E uma característica que só é percebida por pesquisadores neste tipo de igreja, é que muitas proibições tornam-se obsoletas a cada 20 anos. Uma enorme lista de "podes" e "não-podes" são esquecidas e junto com elas também são esquecidas o número de pessoas que foram advertidas, humilhadas em público, exortadas, suspensas, excluídas, por dogmas que hoje não fazem parte de nenhuma igreja, por mais severa que seja. Algumas igrejas proibiam usar shampoo; perfume; sabonete; beber refrigerantes; usar sandálias; mascar chiclete; comer pimenta; ir a alguma festa de aniversário de um não-crente (mesmo que fosse seu familiar); usar somente roupa social e camisas com mangas fechadas nos pulsos; uso obrigatório do chapéu ao homem, chegando a suspensão e exclusão em caso de desobediência. E hoje, nenhuma destas proibições vigoram mais. Azar de quem quis ser crente naquela época, ao menos neste tipo de denominação religiosa. Um senhor, que está em nossa igreja, foi expulso da denominação que fazia parte, nos anos 1970, porque tinha em casa uma tv preto e branco. Na época o pastor e o ministério disse que ele queria ver "as coisas deste mundo". Nos anos 1980 a tal igreja de onde ele fora excluído liberou a televisão. O pastor comprou a sua tv - e colorida! Os vizinhos, e a cidade em geral, comentou: "Agora o pastor pode ver as coisas deste mundo. E a cores!!!"

Muitas igrejas já proibiram muitas coisas em nome da "santidade", o que só impediu de mais almas virem para o caminho de Cristo. Só atrapalhou a pescaria de almas. Só excluiu milhares e milhares de almas. O exclusivismo religioso é uma mancha terrível na história de muitas igrejas evangélicas, e algumas, até hoje, cometem o mesmo erro. Alguns chegam a afirmar: "-Ninguém é obrigado a ficar na igreja rígida...basta ir congregar em outra igreja". Não funciona assim com os filhos que são jovens e adolescentes. Os filhos dos crentes que são membros destas denominações, não podem atender aos convites de passeio da escola, encontrar com os amigos na praia, ou em algum outro lugar de lazer, pois estariam fazendo "a vontade do demônio". E não podem, muito menos, mudar de igreja, pois estão sob a tutela dos pais. Há alguns pais que chegam a conseguir, por meio de contatos, amigos, algum "atestado médico" para tirar os filhos das aulas de educação física da escola, e não ter que usar vestes mundanas. Ou seja: mentir não é pecado, com falsos atestados, mas usar bermuda e camiseta é um pecado terrível.

Uma pena muitas igrejas de décadas passadas terem proibido ter televisão em casa, numa época de poucos canais, e se tivesse apenas 5 minutos em algum, quantas e quantas almas não poderiam ser alcançadas?! E atualmente, com inúmeros canais, com tanta coisa pior que aquela época que passa, liberam assistir tv, e dão de ombro, como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivessem proibido nada. É triste saber que ainda hoje algumas denominações ainda tem em suas igrejas normas que são apregoadas como regras de salvação, e que, ao se referirem as outras denominações evangélicas, usam adjetivações pejorativas, como "portas-largas", igrejas "mundanistas", do diabo, e que todos os outros irão para o inferno, e somente eles alcançarão o céu. Regras que daqui a 20 anos mudam, como o camaleão que muda de cor, e que serviram para aumentar disciplinas, exclusões e apostasia.

Antes de ser pastor fiquei por cinco anos em um ministério como missionário. Ajudei a organizar reuniões, evangelismo, campanhas, etc. Com o tempo percebi que a igreja fugiu aos antigos propósitos e transformou o púlpito em palanque político (nessa época aconteceu muito isso em várias igrejas) e resolvi me afastar por não concordar com aquilo. Na minha opinião igreja é lugar de se apregoar o evangelho. E quase todo culto acontecia o mesmo. Quando o pastor percebeu que eu iria sair do ministério, organizou uma reunião para solicitar aos ministros que espalhassem o boato (com familiares, amigos, ou quem perguntasse por mim) que eu estava "em pecado"Isso porque ele tinha o grande receio da minha saída resultasse na abertura de uma nova igreja, concorrendo com a dele. Isso foi o que ele fez quando saiu do ministério que fazia parte, e como o bom julgador por si mesmo julga os outros, tinha medo que eu fizesse o mesmo com ele. E a sua genial ideia foi espalhar que eu teria cometido algum grave pecado, uma suposta "queda", e por isso eu havia me afastado dos cultos. Uma atitude que é, no mínimo, mundana, leviana.

Um dos obreiros, um evangelista, se opôs a espalhar o tal boato a meu respeito, e interrogou ao pastor se havia realmente a certeza que eu havia caído em pecado. O pastor disse que não era assunto a ser questionado, mas apenas obedecido. Mais uns dois obreiros também discordaram e sugeriram ao pastor uma reunião com a minha presença para se ter certeza do que havia acontecido comigo. Rapidamente o pastor optou aos obreiros "esquecerem aquilo". Mas deixou a ordem de não me colocarem para pregar em nenhuma das congregações.

Não estava mais em meus planos visitar nenhuma das igrejas deste ministério, assim como não tinha projetos de abrir igreja, muito menos próximo a dele. E nem de ficar "pescando em aquário dos outros", seu maior medo. As vezes fico sem entender como alguns pastores, pessoas que já tiveram grandes experiências, receberam bênçãos, sabem do que Deus pode fazer  quando oramos e cremos, e agem de má fé, caluniam, são mentirosos, tem atitudes mundanas, em que muitas vezes um incrédulo seria mais honesto e ético do que ele. Lamentável.

A bíblia nos orienta que a árvore se conhece pelos seus frutos, e não pelas suas folhas. Aparentemente uma pessoa pode estar bem vestida, mas o seu coração só Deus conhece. Assim algumas igrejas rígidas, com doutrinas rigorosas de roupas, consagram diariamente inúmeras pessoas a cargos eclesiásticos, que se vestem socialmente, obedecem as normas da igreja, mas são pessoas despreparadas, imaturas, sem nenhuma experiência, expressam suas frustrações todas no altar, aos berros no microfone da igreja, apregoam a moral e bons costumes, mas cheios de inveja, disputa de obreiros, etc. Não são todas as igrejas rígidas que agem assim. Há muitas igrejas sérias e muitos pastores íntegros. Porém, vivemos em uma época em que muitas igrejas precisam ser evangelizadas!

"O homem de Belial, o homem vicioso, anda em perversidade de boca. Acena com os 
olhos, fala com os pés, faz sinais com os dedos. Perversidade há no seu coração; 
todo o tempo maquina mal; anda semeando contendas"(Provérbios 6:12-14)

Denis de Oliveira é Pastor da Assembleia de Deus, Ministério Poder de Deus, RJ.

Porque há cristãos que se desviam da igreja?

Soou como uma bomba quando se espalhou a notícia que o "irmão Valtemir" se desviou da igreja. Era o presbítero mais procurado para orações! Entregava cada mistério que arrepiava os mais pentecostais e avivados da pequena cidade onde morava. "O homem tinha uma visão de raio-x", dizem muitos. O seu olhar na igreja fazia tremer quem estava em pecado. Os cultos que Valtemir pregava, ou dirigia, era fogo puro. Algumas meninas da mocidade, quando sabia que ele seria o pregador da noite, faltavam culto, saiam da igreja mais cedo, arrumavam qualquer desculpa para não ficarem na mira do olhar fuzilante do homem de Deus. Adultérios, fornicações, o que fosse, se tivesse de apontar, o homem apontava, e tinha razão! Muitos vinham ao altar chorando, e confessavam seus pecados. 

Porém hoje, quem deveria ir ao altar chorando seria o próprio Valtemir. Desviado, bêbado, triste, o homem que sacudia os cultos está no extremo oposto da fé cristã. Bebe até não aguentar mais, e volta para casa aos tombos. A esposa continua na igreja e nunca conseguiu entender tamanha apostasia. O nome "Valtemir" foi trocado, óbvio, para preservar a identidade. Mas o fato é real, e aconteceu não só com ele, mas com milhares de "Valtemir's" espalhados pelo mundo. Porque um homem que era tão usado por Deus, se desviou a ponto de viver como quem nunca conheceu o evangelho?

Prega-se tanta coisa no meio evangélico, que, por vezes, os próprios cristãos se vêem confusos em definir o que eles mesmos acreditam como regra de fé, e ideal no Reino de Deus. A cada momento surgem super-pregadores da Palavra, com mensagens "impactantes", frases de efeito, etc. Versículos bíblicos, que antes faziam parte de uma leitura devocional, agora são associados aos segredos da prosperidade financeira, dicas de um avivamento explosivo, vitórias sobre o inimigo, e outras interpretações. 

Enfim, o aprendizado evangélico atualmente, tem sido, para muitos, uma verdadeira colcha de retalhos, onde a definição não existe, mas apenas "sentimentos". Há cristãos que são guiados pelo famoso "senti que isso não é de Deus". A emoção é algo que, na maioria das vezes, confunde as pessoas, principalmente em se tratando de assuntos espirituais. A bíblia nos exorta de como enganoso é o coração do homem. A longo prazo a frustração é algo certo na vida de quem vive de "sentir", e não de entender as coisas segundo a Palavra de Deus. Com certeza, quem vive assim, é um futuro desviado da igreja.

"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; 
quem o poderá conhecer?" (Jeremias 17:9)

Os sentimentos que muitos cristãos tem são, em sua maioria, contraditórios, confusos, e até hipócritas, diga-se de passagem. Partindo do princípio que "Deus não faz acepção de pessoas" (Romanos 2:11), não demora muito para se perceber os "dois pesos e duas medidas" no julgamento que muitos deles fazem. Como por exemplo, a 'cobrança' na fidelidade na vida de algum irmão. Quanto menos poder aquisitivo, ou seja, mais pobre a pessoa for, mais vulnerável a julgamentos ela é nos círculos dos "sentidores" das coisas de Deus. 

Se um irmão chega a pé em uma reunião, a cobrança por aparência e "santidade" é maior, do que com o irmão que chega em um carro novo. O irmão rico da igreja é visto como um "mistério", e seus deslizes, suas faltas aos cultos, suas vestes, suas atitudes mesquinhas, seu palavreado, é bem mais tolerado e perdoado do que o irmão mais humilde. O irmão pobre, que falta um culto, logo é cobrado. "-Porque o irmão fulano faltou o culto?" E justamente o que tem um bom automóvel, quase nunca é exortado.

"Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os ricos os que 
vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais?" (Tiago 2:6) 

As chances do esfriamento espiritual neste caso envolve os dois, tanto o irmão pobre como o rico. Um, logo sentirá a indignação de ser chamado a atenção por motivos mais óbvios do que o irmão abastado, que tem melhor condição de se deslocar para a igreja. E o outro por ser tratado não pelo que ele é, mas pelo que tem, não amadurece na vida cristã. Vai ao culto quando quer, visita um zilhão de igrejas, e vive enfiado em tudo que é evento evangélico. É uma árvore sem raiz, mas muito respeitado pela grande maioria dos irmãos. Como pode uma pessoa "sentir" de chamar a atenção de um irmão, que é pobre, e nunca sentir o mesmo com o irmão que é empresário?! Logo percebe-se que este "sentimento" é fruto de um preconceito, comum também em pessoas não-cristãs. Ou seja, é uma atitude mundana! E as lideranças que assim se comportam, criam as cobras que futuramente irão lhes ferir. Ambos, se não se desviarem, num futuro não muito distante, e por motivos totalmente diferentes, saem, e abrem as suas próprias igrejas. Mais a frente ele repete o processo quando tiver um irmão rico em seu rol de membros.

"Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?" (Tiago 2:2-4)

No início, após a gloriosa conversão, o cristão segue os conselhos e ensinamentos do pastor. Vai a Escola Dominical, reuniões de estudos bíblicos, enfim, tudo está muito bem até então. Com o tempo, o crente começa a achar que as profecias e revelações que ele ouviu em vigílias, montes e consagrações, o torna um "vaso" não reconhecido pela sua igreja e ministério. Durante o culto, ao ver algum irmão mais simples testemunhando ou pregando, comporta-se como um indignado. Tinha que ser ele! Sai de dentro da igreja, vai na cantina, banheiro, conversa na porta da igreja, nem aí para o que os outros estão falando. Mas se você não der a mesma atenção para o que ele falar é porque você está "desligado". 

No fundo o que ele mais fantasia é que um profeta se levante no meio da igreja, durante o culto, e bradar, com a igreja muda, todas as profecias e revelações referentes a ele, que ouviu nas 'reuniões de fogo' que visitou. Que a obra na vida dele é 'tão grande', mas 'tão grande', que ninguém ali estaria preparado para entender. Daí os irmãos, obreiros, o pastor, o passariam a vê-lo com outros olhos. Mas isso não acontece e ele vai embora pra casa 'marchando', se sentindo uma estrela não vista, um artista sem dar autógrafos, e já planeja mudar para a igreja onde rolou as revelações com ele. Um passo em direção ao desvio. Sua imaturidade não permite ver que lá encontrará problemas iguais ou até piores.

"Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada 
um considere os outros superiores a si mesmo". (Filipenses 2:3)

Outro fato que contribui para a apostasia é a mudança brusca de interpretação, sem base bíblica, do que é a "santificação" na vida cristã. A maioria dos evangélicos, diante de um grave problema pessoal começam a recorrer a reuniões de oração, algumas intituladas "fogo puro", onde a cobrança por 'santificação nas vestes' é áspera. Não é tolerado crente que usa bermuda ou camiseta, mesmo dentro de casa, e, segundo os mais rigorosos, até na hora de dormir. Falta pouco tomar banho de roupa. Há um repúdio para quem não se adapta as suas "doutrinas", como chamam, e cobram severamente de quem quer "receber alguma bênção". Mesclado a uma lista de podes e não podes, estes irmãos entregam um caminhão de revelações, e algumas "batem" com o que a pessoa está vivendo. Em meio a estes sermões exigentes, a pessoa que está numa baixa auto-estima em virtude de algum problema pessoal grave, acaba por se adaptar aos dogmas, no objetivo de ter aceitação social nestes grupos, e mais rapidamente ver sua bênção chegar. Ou seja, não houve nenhuma "libertação" de algum tipo de mundanismo, mas um interesse em não ser rejeitado das reuniões de fogo. 

Na realidade muitos destes 'profetas', quando iniciam na obra de Deus com sinceridade, humildade, e muita oração, (antes de tomarem posturas de julgarem e condenarem as pessoas), até são mesmo usados por Deus. Entregam revelações de assuntos íntimos, pessoais, impossíveis de saberem através de alguém, e por isso são vistos como irmãos consagradíssimos. Começam a ser mais respeitados do que o pastor da igreja. O líder de sua igreja não significa mais tanta coisa. Os irmãos dos "mistérios de fogo" agora são os "vasos" inseparáveis da caminhada cristã. Onde eles vão, vigílias, orações, vai toda aquela tropa de crentes, que não lê, não entende, nem procuram entender nada de bíblia, não sabem nem o que estão fazendo, mas adoram revelações, profecias, sonhos, visões e outros 'mistérios profundos'. Em pouco tempo de convivência percebe-se a malícia, disputa de profetas, de quem entrega mais revelações, e começa a divisão unida. Andam juntos, mas cada um por si. Fofocas, disse-me-disse, e quem vira as costas para ir pra casa dormir, descansar, ou resolver outros afazeres, é porque Deus 'arrancou' estes, e deixou os "mais puros ali" reunidos, para algo mais misterioso ainda. Só nunca se sabe o que. 

"Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor". (Jeremias 23:16)

Embora eu tenha um respeito enorme por estes irmãos, pois sei que no meio deles há muitos homens e mulheres de Deus, digo sem medo de errar: há muitos equívocos (mesmo que a intenção seja de nunca entregar falsas profecias), que atingem em cheio o coração das pessoas que seguem mais revelações do que a Palavra de Deus, e o resultado disso tudo é a pessoa, decepcionada, se desviar da igreja, e não acreditar em mais nada daquilo. E pode observar a vida destes rapazes dedicados a estes movimentos de fogo. Entra ano, sai ano, estão a mesma coisa. Não foram para outros países, como diziam as pseudo-revelações, não estão fazendo nada de extraordinário como se esperava, e vivem entregando quase as mesmas visões, mas para pessoas diferentes. Em muitos casos, não demora muito, se envolvem sexualmente com alguma moça da igreja, a namorada surge grávida, etc. Isso quando o escândalo não é o envolvimento com alguma destas irmãs casadas, que o marido fica sem comida pronta, a casa uma bagunça, e elas tem que ir "fazer o que Deus tá mandando". E enquanto nada é descoberto, estão lá, rasgando profecia pra todo lado.

"Nos profetas de Samaria bem vi loucura; profetizavam da parte de Baal, e faziam errar o meu povo Israel. Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade..." (Jeremias 23:13-14)

Se você é cristão já a algum tempo, amadurecido, sabe que o que estou escrevendo aqui não é uma história que criei, algo da minha cabeça. Sabe que é uma realidade incontestável, isso se você mesmo já não passou por situações semelhantes. O que mais desejo em escrever artigos realistas não é dizer que sei mais da Bíblia, ou criticar igrejas ou pessoas, até porque nunca cito nomes. Mas o propósito é focar a sinceridade de coração na vida de cada cristão. 

Quando vivemos algo, porque a religião ou algum suposto 'profeta' ordenou, criamos uma falsa fé, uma hipocrisia, fazemos acepção de pessoas, julgamos, condenamos e amaldiçoamos pessoas. Quando vivemos uma fé sincera, embasada na Palavra de Deus, exercitamos o amor ágape, o amor verdadeiro, que ama aos irmãos, sejam eles ricos ou pobres. Que respeita profundamente o irmão que anda a pé ou que tem um carro importado. Que aconselha e ora pelo semelhante, ao invés de espalhar boatos que nem sabe se tem fundamento. Sua conduta e seus pensamentos estão voltados para uma reta justiça, e não a hipocrisia das aparências, a religiosidade e as suas demagogias. O seu coração é direcionado a atender ao Reino de Deus, ajudar sem olhar a quem, e ser apenas servo. Este é um grande passo para nunca se desviar dos Caminhos do Senhor!

"Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade". (1º Coríntios 5:8)

"Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus". (2º Coríntios 2:17)

Denis de Oliveira é pastor da Assembleia de Deus, Ministério Poder de Deus, RJ.

160